terça-feira, 27 de julho de 2010

gesto #1

Aliás, esse é o meu primeiro post. Um rascunho de terça, que só consegui finalizar a edição hoje.


Recapitulando, sexta-feira passada, no segundo dia de residência, depois do exercício do cardume, conversamos sobre a dificuldade de se manter conectado ao movimento de quem lidera, quando achamos que já sabemos o que será feito. O resultado seria um gesto menos espontâneo do que o do líder e mais pròximo de uma forma. Ou como foi dito, no dia, "teatral".

Sobre isso, repeti o que o artista plástico, Cadu, me disse uma vez durante uma aula de desenho de observação. Ele falou sobre como diante de um objeto, tendemos a desenhá-lo a partir da imagem pré-moldada de nossas mentes e não com o que estamos relamente vendo. Para evitar isso, uma das estratégias é desenhar o objeto a partir de seus pedaços em branco, de tudo que não é o corpo do objeto. Isso significa que o desenho deve surgir de um olhar que tenta descobrir o objeto.

Ainda sobre essa reflexão do exercício, Dani lembrou de um trecho do livro da Anne Bogart, que tinha lido na noite anterior, em que ela relaciona a "presença" com a manutenção do interesse com o que se está fazendo.

De certa forma, tanto a estratégia do desenhista quanto a proposta da Anne Bogart têm em comum a característica de serem manobras, que o artista deve lançar mão para evitar que seu cérebro funcione de maneira previsível e o impeça de estar aberto para o diferente e circunstancial.

Ainda sobre a questão da repetição do movimento e da espontaneidade e da representação, pensei em algumas leituras e pesquisas, que pudessem me ajudar, como Kleist e seu livro sobre a marionete, ou o trabalho do João Fiadeiro.

Mas foi revendo os vídeos do Francis Alys (mais uma vez, neste blog!), que encontrei um bom trabalho que dialoga com essa questão. O trabalho em vídeo, "Re-encatment", que em português poderia ser traduzido como "Re-representação", apresenta um quadro dividido em dois, com dois planos-sequência com "ações" e "acontecimentos" praticamente idênticos. Na verdade, em um dos vídeos, o que se vê é registro a distância de uma "performance" do artista que ele sai andando pelas ruas do México com um revólver até o momento em que é preso pela polícia. Na delegacia, Francis explica sua performance e convence os policiais a participarem da segunda etapa, que consistiria em refazer tudo de novo. O resultado é o segundo vídeo, do quadro, em que nós vemos a ação sendo feita pela segunda vez.

Com base nisso, desenvolvi uma proposta, que se tiver como, vou apresentar amanhã.


Um comentário:

Salloker disse...

Curiosa perspectiva. Uma possibilidade de deseducar o olhar!